sexta-feira, 27 de março de 2015

Pesquisadora visitante do CNPq na Universidade Norte Fluminense Darcy Ribeiro, Campos dos Goytacazes setembro de 2014 /Agosto de 2015

Um novo projeto de pesquisa: 
A cidade como arena de oportunidades: Etnografia das margens da cidade, estética e partilha política do sensível 


A construção das margens e a partilha do sensível

A partir da pergunta: Quem reside hoje nas margens da cidade? A pesquisa pretende-se aprofundar a compreensão das práticas e estratégias dos moradores envolvidos em projetos significativos de mudança no cotidiano, dentro e fora, do espaço de moradia. Vamos partir de uma definição ampla das margens como situações que deixam de lado e até excluem diversos sujeitos. As margens se constroem numa relação e numa tensão entre formal/ informal, poderes/ contra poderes e entre reconhecimento e negação.  As margens urbanas devem ser entendidas como uma construção espacial e social que permitem uma melhor compreensão do desenvolvimento urbano. As margens fazem referências a outras noções tais como, interstícios e fronteiras. 
Trata-se de resgatar, na construção das margens urbanas, a maneira como interlocutores 1) se definem do lugar, confrontando diversas práticas que provocam interações diversas além da partilha de espaços e tempos, 2) enfrentam processos de mudança como a remoção. Esse processo envolve muitas questões, que vão desde o enfrentamento entre o poder público municipal e os moradores da comunidade a ser removido, a partir da resistência a deixar suas casas, à perda da relação de vizinhança, à ruptura entre o homem e seu habitat, seus referenciais sociais, espaciais e simbólicos, seu sentido de lugar. 
As práticas do cotidiano, as trajetórias de um lugar para outro são plurais, e contam com habilidades mistas, envolvem os residentes em vários registros até multiplicar iniciativas culturais, artísticas e outras. Assim no espaço urbano, a memória, o risco, a violência se encontram até compor uma estética, uma partilha política do sensível.
Conforme Jacques Rancière (A partilha do sensível. Estética e política. São Paulo: Editora 34, 2005, p.15 ) , a “partilha” deve ser tanto interpretada como o compartilhamento de algo comum (a cultura, os direitos civis, a liberdade) quanto como um “lugar de disputas” por esse “comum” – disputas que, baseadas na diversidade das atividades humanas, definem “competências ou incompetências” para a partilha. a política não tem lugar próprio ou sujeitos pré-definidos, a política sempre existe como desentendimento ou dissenso, nada é em si mesmo político, mas pode tornar-se político à medida que opera sob a racionalidade dissensual. Na política sempre entra em jogo questões de limites, fronteiras e margens.
 
 

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